O Formato Educativo da Rádio educativa.
Fabiana Santos Costa
Resumo
As argumentações que seguem nesse artigo buscam trazer uma reflexão envolvendo questionamentos de fundamental importância no nosso dia-a-dia. O que pretendo abordar é uma análise da educação no contexto contemporâneo, aliada a meios de comunicação, que são, além de elementos estruturantes do processo educativo, também uma maneira de acompanhar o desenvolvimento tecnológico que vem acontecendo nos últimos tempos. A mídia a ser inquietada é o rádio e a analise se dará através de uma retomada ao seu surgimento e evolução ao longo da história. Assim será detectado onde se encontra o caráter educativo, desde o princípio, a fim de articular com o contexto contemporâneo e verificar qual sentido pedagógico encontra-se inserido nessa abordagem.
Palavras-chave: Rádio Educativa. Contemporaneidade. Comunicação.
Introdução
Em diversos momentos da história, os diferentes tipos de sociedade seguiram caminhos distintos para percorrer a dinâmica do saber. Todas elas embasadas por formas e estratégias existentes naquele determinado contexto. Em outras palavras, podemos dizer que em cada momento coube à escola o papel de refletir as necessidades e ânsias da sua época.
Encontramos-nos inseridos em uma sociedade cuja característica marcante é a articulação de informações em prol da construção do conhecimento. Nesse contexto, a educação ganha uma dimensão mais profunda e o significado da escola encontra-se atrelado a diversos fatores, que vão além de espaços escolares e que ultrapassam as práticas formais vivenciadas em momentos anteriores: ensinar e aprender; receber e reproduzir.
Isso nos faz perceber que:
“A educação, portanto, ocorre nos mais diferentes espaços e situações sociais, num complexo de experiências, relações e atividades, cujos limites estão fixados pela estrutura material e simbólica da sociedade, em determinado momento histórico. Nesse campo educativo amplo, estão incluídas as instituições (família, escola, igreja, etc), assim como também o cotidiano difuso do trabalho, do bairro, do lazer, etc.”(Dyarell,1991,p.142)
A abordagem de Dyarell nos leva a refletir para uma questão demasiadamente importante, que enquanto educadores, não podemos deixar passar despercebida: o processo de aprendizagem que se encontra inserido fora da escola.
Assim, em tempos de contemporaneidade, devemos atentar para o caráter progressivo e veloz da informação, a necessidade da prática educativa abranger o seu mais profundo conceito (construção do conhecimento) e o papel da mídia, como um fator influente de aprendizagem no contexto não formal e como elemento desencadeador de novas práticas pedagógicas.
Nesse âmbito, podemos mencionar o rádio como, além de um meio de comunicação bastante presente no nosso cotidiano, também um instrumento de integração da comunidade, e ainda um aliado no processo de aprendizagem no que diz respeito à busca de transformações sociais que tanto inquieta o nosso contexto contemporâneo.
È na perspectiva de salientar a importância do papel do rádio na sociedade, levando em consideração sua influência no panorama educacional, que busco desenvolver esta reflexão.
Assim, as palavras que seguem vão nos trazer uma abordagem que envolve o surgimento e evolução do rádio, destacando em que momento encontra-se inserido o contexto educativo. Em seguida, uma análise das características de uma rádio educativa. E por fim, uma síntese em torno de qual sentido pedagógico encontra-se imbuído nesse contexto.
Onde tudo começou...
Em 1963, na Inglaterra, o físico James Cleck Maxell despertou para a provável existência de ondas eletromagnéticas e não faltaram interessados em pesquisar sobre o assunto. Um deles foi Rudolf Hertz, que através do experimento de fazer soltar faíscas no ar colocando em contato duas bolas de cobre, descobriu as ondas hertzianas, hoje denominadas de quilohertz. (Histórias do Rádio , 2007)
A evolução do rádio se deu de forma veloz no sentido de aperfeiçoamentos das transmissões, tornando-o, cada dia mais, um meio de comunicação eficiente.
No Brasil, a chegada das inovações acontece na década de 20 do século XX e é marcado pelo surgimento da primeira rádio do país, a radio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923, tendo como fundador Roquette Pinto, considerado o “pai do rádio brasileiro”. A rádio teve como primeira transmissão oficial o pronunciamento do presidente da época (Epitácio Pessoa)
È válido ressaltar que Roquete Pinto, ao fundar a rádio mencionada acima, teve o intuído de abordar a extrema relevância da educação no rádio. Para tanto, enfatizou a importância histórica da relação comunicação x educação no contexto radial. Fica subentendido, portando, que o caráter educativo atrelado ao rádio existe desde o seu surgimento. Posteriormente, a Rádio Sociedade é doada ao MEC (Ministério da Educação) a fim de que continue trabalhando com o mesmo propósito educativo.
O processo evolutivo do rádio no âmbito brasileiro continuou crescendo. Na década de 30 acontece a autorização do uso de propaganda no rádio, através do decreto de Lei 21.111, do presidente da Ditadura Militar (Getúlio Vargas). Vivencia-se então um apogeu do rádio como veículo de comunicação de massa e uma forte influência na vida da população, comercial e politicamente. No âmbito comercial refletiu as mudanças de inovações técnicas, nas quais se encontrava o país. E por outro lado, as propagandas eleitorais e os pronunciamentos do presidente marcaram o reflexo político do momento.
As décadas de 40 e 50 são também marcadas pelo surgimento e evolução da TV, que recebe grande força da mídia em detrimento ao rádio. Ainda assim, o rádio permanece crescendo, juntamente com o surgimento e aperfeiçoamentos das emissoras que lhe atribuía, dia-a-dia, características mais atuais.
Nas décadas de 60 e 70 vive-se um momento radial de excelente estilo comunicativo, por apresentar programas com mais variedades e de caráter mais jovial. Da década de 80 até os dias atuais o rádio, além da continuidade no seu processo evolutivo, é marcado pela perspectiva de surgimento de uma tecnologia digital, a qual caracteriza uma revolução radiofônica no sentido de ampliar a potência do rádio (Histórias do Rádio, 2007).
A Rádio Educativa e a Educação
Dado um entendimento do surgimento e processo de evolução do rádio, podemos perceber que ele foi capaz de se tornar uma alternativa de comunicação na vida das pessoas, quando conseguia levar de casa em casa a transmissão de informações.
“A educação implica comunicação” (Scheiimberg,1997, p.39) e “se dá de fora para dentro, tanto como de dentro para fora” (Beuner,1987, p.132)
Desta forma, o poder do rádio em transmitir informações e articular o processo de comunicação, evidência quão grande é a sua potencialidade no sentido de vencer territórios e promover a socialização educacional.
E para defender o real papel educativo do rádio, ainda nos fala Scheimberg, (1997):
“Ao transmitir informação, ao comunicar significados, o rádio participa do processo sócio-cultural de desenvolvimento de grande parte da população do planeta, pelo que podemos dizer, efetivamente, que o rádio educa” (1997, p.50)
O papel educativo do rádio encontra-se entrelaçado com suas amplas característica que o fazem, por um lado, ser um elemento de fundamental importância no processo de integração do cidadão à sociedade, e ao mesmo tempo um instrumento de transformação social no momento que permite ao sujeito fazer da informação que acessa, fonte de material e de significados para ampliar sua rede de conhecimentos e cultura abrindo possibilidades para sua real participação sócio-cultural .
Sendo assim, pode-se dizer que tanto os programas denominados “educativos”, quanto os de outro cunho, (entretenimento, propaganda, etc) contribuem para a construção do saber. Eles possibilitam uma significação de conhecimentos capazes de atender a perspectiva educacional da contemporaneidade, cujo discurso está voltado para a formação de sujeitos críticos, autônomos e atuantes. A vivência encontrada a partir da articulação do conjunto de práticas formais e não formais que envolve o âmbito educacional é quem vai proporcionar que essa formação efetivamente aconteça.
Assim, a escola precisa buscar fora do seu espaço físico, condições que possibilitem aos alunos refletir sobre sua capacidade de atuação na sociedade fazendo-o entender que:
“... quanto mais expostos estiver o ator a experiências diversificadas, quanto mais tiver de dar conta de ethos e visões de mundo contratantes, quanto menos fechada for sua rede de relações ao nível de seu cotidiano, mais marcada será sua autopercepção de individualidade singular” ( Velho, 1987, p.32)
A escola deve ser, portanto, um espaço de articulação de experiências e conhecimentos.
As Ultimas Considerações
Com o forte posicionamento das tecnologias frente aos meios de comunicação, tornam-se necessárias contínuas reformulações de conceitos e práticas que envolvem o contexto educacional. O rádio, talvez devido a possuir uma intenção educativa desde sua origem, garante possibilidades infinitas de de exercer um verdadeiro papel educativo
Ao trabalhar com esse instrumento (rádio), a escola tem a condição de tratar de assuntos que mesmo não considerados educativos formais, possuem influencia e interesses na vida da população e podem ser considerados um grande aliado no processo de comunicação interativa e educacional na vida das pessoas.
Diante de toda essa reflexão podemos dizer que “não se espera da escola apenas o papel de transmissora de conhecimento” (Moreira, 1991), tampouco como detentora absoluta das informações necessárias ao indivíduo. O verdadeiro sentido pedagógico encontra-se entrelaçado na perspectiva de formação de sujeitos críticos e atuantes na sociedade. E o rádio sobre essa visão, deve atuar através de uma programação variada permitindo que seus ouvintes adquiram conhecimentos diversos e possam posicionar-se criticamente sobre eles.
Referências Bibliográficas:
SCHEIMBERG, Martha. Educação e Comunicação: O Rádio e a Rádio Educativa. In: LITWIN, Edith. (Org.) Tecnologia Educacional: políticas, histórias e propostas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. Múltiplos olhares sobre educação. e cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. p. 142-143.
VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.
BEUNER, J. La importância de la educacion, Barcelona, Paidós, 1987
MOREIRA, S. V. O Rádio no Brasil. Rio de Janeiro, Rio Fundo Ed., 1991. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/revistasebrae/02/pg_artigo7.htm Acesso em
19/06/2007.
História do rádio. Imagens do rádio no Brasil. Disponível em: http:// www.microfone.jor.br/fotos_radio.htm. Acesso em: 19/06/2007.
quarta-feira, 27 de junho de 2007
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2 comentários:
Olá Fabiana,
melhorou bastante tua produção. Continue escrevendo.
Boas férias!
Oi Fabi...
Que legal o seu tema!
Pelo fato de a gente ter trabalhado com Rádio e Educação, a 1ª proposta que tive de artigo, foi tb sobre o Rádio e suas implicações na educação. Mas depois mudei, pq achei que seria interessante falar daquela questão de usar as tecnologias não como ferramentas, mas como elementos estruturantes do processo de aprendizagem. Legal! Parabéns pelo seu blog. Boas férias!!! bjs
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